Editorial

Página virada e muito a ser escrito

O dia de hoje, como a maioria das segundas-feiras pós eleições, marca uma página virada na história do país. Desta vez, no entanto, uma página cuja história registrada é turbulenta, tensa e, o pior de tudo, escrita a partir de uma divisão dos brasileiros como poucas vezes vista. O recente ciclo do país, é preciso que se reconheça, foi marcado por crises de alto impacto, capazes de contribuir para que um cenário inimaginável para um país que almejou, pouco mais de uma década atrás, estar hoje entre as principais potências do planeta, seja do ponto de vista econômico, no aspecto social ou na representatividade política. Contudo, o resultado das urnas é inquestionável: o governo de Jair Bolsonaro é visto pela maioria dos brasileiros como responsável (ao menos em parte) pela construção dessa realidade de maior desigualdade, perda do poder de compra da população e, principalmente, violenta animosidade entre cidadãos que pensam diferente.

Por isso mesmo, o novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, tem diante de si agora o maior desafio de toda sua carreira política. Fazer com que realmente a história a ser escrita a partir de janeiro seja outra. Uma superioridade nas urnas costuma dar aos eleitos um período dourado, de lua de mel com a sociedade. Um intervalo de alguns meses em que o governante ganha tempo para começar a apresentar resultados, antes de ser cobrado intensamente. Contudo, o Brasil atual, dividido, dificilmente dará esse espaço. E Lula terá como uma das missões mais importantes a pacificação, colocar água na fervura, acalmar os ânimos ao mesmo tempo em que atende aos anseios de quem o elegeu. Difícil, mas que é exigido de quem se propôs a governar nesse cenário.

No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite mais uma vez mostrou-se um fenômeno raro. Ao conquistar o feito de ser o primeiro reeleito para um cargo que costuma incinerar carreiras políticas, o ex-prefeito de Pelotas mostra que, como administrador do Estado ao longo de pouco mais de três anos, conseguiu estabelecer pontes e diálogo. Mesmo tendo ferrenhos opositores _ o que é natural e até desejável _, firmou-se como um líder cujas decisões podem até ser questionáveis, mas raramente soam como fruto de arroubos ou falta de planos e convicções claras. Com isso, tornou clara sua diferença em relação ao adversário do segundo turno e ganhou a preferência da maioria dos gaúchos.

Lula e Leite certamente não são os ideais de políticos para grande parcela dos eleitores brasileiros e gaúchos. Porém, demonstraram disposição em conversar, ouvir os diferentes e buscar saídas para os verdadeiros problemas da população. Ganharam páginas em branco para uma nova história. Que cumpram suas promessas e entreguem, em quatro anos, um Brasil e um RS muito melhores.

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